Na noite de terça-feira, 11 de novembro de 2025, Guaíra celebrou um dos capítulos mais simbólicos de sua história. A Igreja Nuestro Señor del Perdón, conhecida carinhosamente como Igrejinha de Pedra, completou 91 anos de fundação com uma missa especial realizada em frente ao templo, sob uma estrutura montada para acolher a comunidade e os fiéis que se reuniram para homenagear o cartão-postal mais antigo da cidade.

A celebração foi presidida pelo padre Jauri Strieder, pároco da Igreja Nossa Senhora dos Navegantes, que também abençoou os 74 anos de emancipação político-administrativa do Município de Guaíra, comemorados nesta sexta-feira, 14 de novembro. Durante a homilia, o padre destacou o papel da fé na formação cultural dos povos. “A cultura de um povo se revela em sua fé, e a arquitetura religiosa é o reflexo mais visível dessa devoção. Os templos contam histórias, revelam a alma das comunidades e são testemunhas silenciosas da passagem do tempo. Guaíra preserva essa herança com a beleza de sua Igrejinha de Pedra, símbolo da identidade e da fé do seu povo”.

A solenidade ainda contou com benção especial para as crianças e casais que casaram na Igrejinha e terminou com distribuição de bolo e suco para todos, realizada pelo Município de Guaíra por meio da Diretoria de Cultura da Secretaria de Turismo, Esporte e Cultura.

Erguida em 1933 pela Companhia Matte Larangeira, a igreja foi construída com pedras brutas encaixadas em estilo espanhol. Seus vitrais de origem hispano-argentina retratam a catequese jesuítica praticada aos povos indígenas, que simboliza o encontro entre culturas e o nascimento de uma fé compartilhada. Algumas das telhas utilizadas na construção foram retiradas da antiga Ciudad Real del Guahyrá, uma das reduções jesuíticas mais antigas da América do Sul, datada de 1556. Cada detalhe do templo guarda fragmentos da história regional e da espiritualidade que moldaram o Oeste do Paraná.

A primeira missa foi celebrada em 11 de novembro de 1934, dia de São Martinho de Tours, santo francês, padroeiro dos turistas, pelo monsenhor Guilherme Maria Ehiletzeck. Desde então, a data permanece marcada na memória de Guaíra como o nascimento de um de seus maiores símbolos de fé, cultura e turismo.

A coincidência da primeira missa ter ocorrido exatamente no dia de São Martinho de Tours, padroeiro dos turistas, parece mais que um acaso: é quase uma predestinação. Assim como o santo, que acolhia os viajantes e abençoava os caminhos, Guaíra também nasceu com vocação para receber, acolher e encantar.

A cidade, que guarda em seu DNA o espírito do turismo, carrega na bênção da Igrejinha de Pedra um sinal de destino e identidade. É como se, desde o primeiro toque dos sinos, Guaíra tivesse sido consagrada à arte de receber, de transformar fé em hospitalidade e história em caminho.

A história da Igrejinha de Pedra é envolta em relatos que atravessam gerações. Registros históricos preservados no Museu Sete Quedas relatam que a construção foi iniciativa da Companhia Matte Larangeira. Mas há quem acredite em uma versão mais romântica, passada de boca em boca ao longo dos anos. Conta-se que a igreja foi erguida como promessa feita pela esposa de Otto Roder, após o desaparecimento do marido em um acidente aéreo. Segundo a tradição oral, o corpo foi encontrado e a promessa cumprida: os moradores teriam levado pedras das lendárias Sete Quedas até o local da construção, como ato de fé e gratidão. No entanto, essa versão é considerada apenas uma lenda, pois o falecido em questão assinou a ata da primeira missa da Igrejinha, o que prova que ele estava vivo no dia da celebração. Ambas as versões, a histórica e a lendária, convivem em harmonia no imaginário popular e alimentam o encanto e o mistério que cercam o templo.

Há nove décadas, a Igrejinha de Pedra acolhe fiéis de todas as partes. As missas são celebradas às quartas-feiras, e reza a tradição que, em dias de céu limpo, aquele que fizer um pedido puro e sincero dentro do templo terá sua graça alcançada. Entre as pedras frias e os vitrais coloridos, ecos de orações e promessas se misturam às lembranças de casamentos, batizados e celebrações que marcaram a vida de tantas famílias guairenses.

Para o Município de Guaíra, preservar este monumento é preservar a própria alma de sua gente. A Igrejinha de Pedra é um símbolo que carrega a força da fé, o legado da história e a beleza da arte. Um espaço que traduz o sentimento coletivo de pertencimento e espiritualidade.

Quem visita a Igrejinha sente a energia que emana de suas paredes de pedra. É como se o silêncio do interior guardasse a voz dos que vieram antes, para lembrar que a fé é o elo que atravessa o tempo. A cada aniversário, a cidade renova esse compromisso de gratidão e respeito por um patrimônio que ultrapassa a matéria e alcança o sagrado.

A Igreja Nuestro Señor del Perdón é, acima de tudo, um retrato da alma guairense, um monumento que testemunha a história de um povo de fé.

Igreja Nuestro Señor del Perdón: 91 anos de fé, arte e história. Um patrimônio que abençoa Guaíra e o seu povo.

DICSI: Texto e Revisão: Cintia Marques / Foto: Lindomar Vantelino